Meu nome é Joe, e eu pirei de vez.
Antes eu não ligava pra nada, eu queria é que todo mundo explodisse em seus julgamentos. Cada dia era mais arrastado que o outro, enfim, era como seu eu carregasse tudo nas costas, na escola e em casa, eu tava vazio. Não conseguia fazer nada que ajudasse, eu sempre estragava tudo. Via nos olhos das pessoas que elas eram tão falsas comigo quanto um celular de camelô. Cara, isso tava me matando. Acho que eu era um zumbi, já tava morto a muito tempo, meu coração acho que nem batia mais. E eu tava doente. Tava doente da alma, tinha câncer de sentimentos ruins, queria acabar com tudo logo.
Até que um dia eu pirei. Joguei tudo pro alto e fui tentar entender porque a Natalia era tão feliz e eu não. Ela tinha ido na minha casa fazia um mês pra entregar uns papéis, convidando pra igreja, falava estranho. Ela tinha umas cicatrizes no rosto, que só fui perceber depois de ela ir falar comigo na escola. Eram cicatrizes como se fossem riscos, perto do nariz, mas ela era uma guria bonita. Não gostava de maquiagem e sorria demais, tanto que me irritava.
Foi ela que me disse pela primeira vez que Deus me amava, e que Ele tinha entregue seu filho pra morte pra que eu pudesse viver. Foi muito estranho ouvir isso dela. Eu já sabia disso. Ia na igreja com minha mãe quando eu era pequeno, mas desisti quando comecei a achar tudo aquilo muito chato e não via muita realidade no que eu aprendia lá. Virei um ateu porque era moda. Depois tentei ser budista porque um amigo disse que era massa. Mas não entendia nada disso. Sempre fui de questionar tudo, e quando não sabiam me responder eu pulava fora. Mas com a Natalia era diferente, se ela não soubesse a resposta ela simplesmente sorria e dizia que ia voltar no dia seguinte com a resposta. E voltava mesmo! Tipo, ela se importava em me responder. Não dava pra entender, mas eu gostava. E o engraçado é que, depois de tudo, ela não dava encima de mim como outras garotas, ela ia me guiando, como se fosse uma irmã, me dizendo todo dia que Deus tinha coisas melhores pra mim.
Em um mês essa menina me convenceu de ir na igreja com ela. Foi bem diferente, senti um troço queimando dentro do meu peito, era bom e esquisito. Um cara na minha frente virou pra mim e disse: “Hoje é seu dia, hoje você vai ser feliz”. Eu fiquei tão assustado com aquilo, o cara nem me conhecia! No final de tudo a Natalia me levou lá na frente, perto do púpito e me abraçou, de lado. O pastor veio me perguntar se eu queria aceitar Jesus na minha vida. Eu pensava em muita coisa naquela hora. Mas uma coisa muito forte explodiu na minha mente: “Você vai ser feliz, você vai ser feliz”. Eu respondi que sim e repeti umas palavras.
Saí daquele lugar sendo abraçado por várias pessoas que nunca me viram, fui apresentado à uma “nova família”, era como eles falavam. Levei a Natalia em casa, ela morava perto da minha, e ela parecia mais feliz do que antes, dizia que eu tava finalmente sorrindo. Eu não sabia o que dizer, cara, não sabia mesmo, só ria junto com ela. Quando ela se despediu, disse uma coisa maluca, que eu nunca mais vou esquecer. Ela disse assim: “Joe, hoje você pirou, pirou de vez”.
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